A Questão do Aborto

Aborto

Famosa foto de 1999, que mostra um feto de 21 semanas sendo operado dentro do útero.

É sempre difícil expor uma opinião sobre um tema polêmico; mas não devemos ser covardes e escondermo-nos dentro de nossas conchas, temendo a reação daqueles que discordam de nossa opinião.

Eu quero falar sobre o aborto. Já vi e ouvi muita coisa à respeito e acho que tenho uma opinião bem formada sobre o assunto.

Eu sou contra. Não devemos abortar. Existem inúmeras variáveis e uma grade de situações, mas eu assumo uma postura de defender a vida.

Em alguns casos, por mais absurdo que seja, defender a vida vai de encontro à liberdade de escolha de uma mulher. Neste caso, temos a difícil decisão de assumir um lado na disputa: Ser a favor da vida ou ser a favor da escolha.

Optando pela vida, assumimos que um feto é, inexoravelmente, uma vida desenvolvida ou em desenvolvimento. Logo, temos os direito de interromper este curso?

Se optarmos pela escolha, chegamos à conclusão de que uma mulher pode escolher ser mãe quando quiser ou não passar por uma gravidez indevida ou indesejada, expressando sua vontade sobre todo o resto.

Mas vamos racionalizar a questão:

Tanto o espermatozóide quanto o óvulo são células vivas, destinadas à um ciclo muito curto de existência. Seus objetivos naturais são formar um embrião e só por isso existem.

Depois de fecundado, o óvulo se torna a célula ovo e quando começa a se dividir, torna-se o embrião; este, tem por objetivo se tornar um ser vivo independente.

Um embrião é assim chamado até a 8ª semana de gestação, onde depois de formadas as estruturas básicas humanas, passa a ser um feto.

Durante o estágio embrionário, a vida não se sustenta sozinha; logo, podemos qualificar o embrião como um ser humano ou devemos atribui-lo à condição de promessa de vida?

Embora já seja possível manter artificialmente seres humanos nascidos de forma prematura, com até 22 semanas de gestação, os países que permitem o aborto legal, em quase sua totalidade, restringem, salvo algumas situações de risco para a mãe, o procedimento em gestações superiores à 6 meses.

Assim, a discussão deve gerar em torno de ser permitido abortar ou não, antes deste período.

Até 3 meses, o aborto pode ser executado de maneira não cirúrgica, através da administração de fármacos que interrompem a gravidez e expulsam o embrião. Em alguns casos, quando o aborto químico não dá resultado, pode ser necessária a aspiração do útero.

Do 3º mês até o 6º,  o procedimento consiste na dilatação cervical realizada um dia antes e na intervenção cirúrgica feita sob anestesia, onde é inserido um aparelho na vagina para cortar o feto em pedaços e retirá-los um a um de dentro do útero. Outra opção é forçar o trabalho de parto prematuramente.

As maiores discussões sobre o assunto ocorrem na questão de quando é adquirida senciência. Este é um grande debate da comunidade científica, mas em geral reconhece-se que aos 6 meses o feto já possua todas as estruturas básicas formadas e ondas cerebrais regulares.

Para mim, a grande questão é onde começa e onde termina nosso direito de escolher se um ser humano deve ou não existir. Mesmo se tratando de apenas um potencial ser humano, ainda sim existe um ciclo vital, inerente à nossa vontade fisiológica, que resultará em uma vida humana, exatamente como a nossa.

“O aborto é um processo não natural, baseado em decisões tomadas por seres humanos que restringem o direito à vida de um outro ser humano.”

Altere a palavra “aborto” por “assassinato” e ainda assim, a sentença estará correta, porque o ato de interromper um ciclo vital voluntariamente, causando a morte de um feto e conseqüente interrupção deste mesmo ciclo, configura-se em um crime contra a vida, em favor de uma decisão ao qual o assassinado não tem gerência, opinião ou mesmo capacidade de se defender.

Mas como fica a escolha? Por que uma mulher não pode escolher entre passar ou não, por uma gravidez indesejada?

Ao meu ver, existem escolhas que podemos e devemos fazer na vida. Escolhas que definem quem somos e a que viemos. No entanto, o desenvolvimento de uma nova vida no ventre da mãe, não é uma escolha consciente; É um processo natural, inerente à vontade alheia e com um objetivo muito bem definido; E mais do que isso, é a vida de um ser humano, sendo gerada por outro ser humano.

Assumir, que temos o direito de interromper isso, é assumir que temos o direito de decidir quem vive ou não. Se somos todos iguais, e realmente, deveríamos ser, então que demonstremos desde o início, respeitando o direito mais básico da vida, que é viver; Mesmo que isso signifique que a escolha da mãe seja suprimida em nome da sobrevivência do filho.

Se não somos capazes de respeitar o direito à vida dos nossos próprios descendentes, como poderemos respeitar os direitos básicos, de nossa própria humanidade?

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7 respostas a A Questão do Aborto

  1. Isis diz:

    E você acha mesmo que há respeito dos nossos direitos básicos?
    Quanto ao tema em si, eu concordo com a lei brasileira que permite o aborto em caso de estupro. (Nada que a pílula do dia seguinte não resolvesse, mas não podemos julgar que em um país como o nosso esse tipo de informação e coragem para enfrentar o farmacêutico ou o atendente do posto de saúde existam…)
    A questão filosófica por trás de nossa lei é essa que vocês comentou, assim como todos os outros direitos que asseguram (deveriam) saúde, ensino, segurança… Mas se até quem está lá para votar essas mesmas leis pensa primeiro em si próprio ($$), como se garantem esses direitos básicos?
    Estava aqui pensando: Nem precisamos ir tão longe. As pessoas não respeitam umas às outras e a si mesmas PONTO.

  2. Fico pensando:

    Imagine o pior criminoso que pode existir neste planeta; este criminoso é tão mau que pela vibração dele, quando ele passar ao lado das flores, as lindas flores morrem pela vibração pesada do mau.

    Agora, imagine o mesmo mal foi estuprar uma menina e se engravidou; neste caso, é fácil imaginar que o próprio feto será um futuro monstro.

    O que será a melhor opção?

    • Leandro diz:

      A melhor opção para quem? Não cabe a nós decidir quem vive ou quem morre.

      Além do fato de ser extremamente controverso, o fato da transmissão de caráter ou personalidade, via DNA.

      No meu entendimento, um crime não pode, jamais, justificar o outro.

  3. Erika diz:

    Sejamos realistas, elucubrar sobre o assunto é fácil, fácil, dizer que não podemos aquilo ou isso, que a vida isso ou aquilo… somos imperfeitos, temos medo, muito medo. Eu garanto esta sensação de desespero, de se sentir perdida, de se questionar “e agora? o que vai ser da minha vida?” isso tudo quando vc se depara com a notícia que está grávida, mais uma vez, e que a sua barriga vai crescer, e não a dele, que seu corpo vai mudar e não o dele, que suas noites depois do parto que sua vida inteira será totalmente ligada a aquela criança e isso não acontecerá na mesma proporção com ele. E isso no melhor dos casos quando o homem é um homem correto. Então meu querido amigo, dizer que nós mulheres somos assassinas quando tiramos a vida de uma criatura tão indefesa é real, mas ao mesmo tempo tão injusto. Por isso, antes de fechar sua opinião, espere encarnar como uma mulher que tem que trabalhar como um homem, que tem que ser mãe, estudante, filha, entre outras tantas funções e tudo isso sozinha, e ai sim sentindo o que sentimos naquele momento vc diga de coração o que acha, e se um dia mesmo com o coração em pedaços vc decida fazer um aborto, tenha certeza que toda noite vc vai chorar e vai sentir vergonha por isso, e com isso tudo em seu coração a última coisa que vc necessita , é ser qualificada como assassina.
    Bjs e seja feliz!

  4. Leandro diz:

    Obrigado por comentar Erika. Vamos lá:
    Como disse, não é uma questão fácil e com certeza estou aberto à debater posições contrárias.
    O que eu defendo neste post é o direito à vida. Uma mulher com dificuldades para criar o filho, tem sempre a opção de entregar para adoção; É uma medida menos egoísta do que simplesmente privar um ser humano de nascer. Assassina, não é só a mulher que aborta: É o pai que apoia ou o profissional que executa. Abortar, continua para mim, uma saída fácil, irresponsável e extremamente desumana. Todos nós temos o direito à vida, e negar isso ao próprio filho é um ato que nem as feras na natureza fazem. Todos os argumentos sobre as dificuldades de mulher em uma gravidez indesejada, fazem contraponto à simplicidade de decidir se a criança pode ou não nascer. Decisão essa que não cabe a qualquer outro ser humano.

  5. Erika diz:

    Continuo dizendo, é fácil ter opnião formada quando nunca passará por isso na pele, fica bem fácil, mas como vc mesmo disse cada um tem direito de ter a sua opnião sobre qualquer fato.
    Por exemplo, eu não me aventuro a questionar ou dar minha singela opnião quanto a atitudes dos homens que sempre são justificadas por tais como sendo da natureza deles, não sou um homem, fica difícil opnar. Bem é esta minha opnião e o exemplo não é na mesma medida, mas o ilustra bem.

    Inté!

  6. Leandro diz:

    Querida Érica… nunca é fácil formar uma opinião sobre um assunto tão sério; E acredite, por mais que eu nunca vá passar por uma gravidez, posso sim acompanhar uma de perto. Antes de nos encontrarmos divididos entre homens e mulheres, somos, acima de tudo, seres humanos, e como ser humano é que exponho a minha opinião, me posicionando à favor da defesa da vida, sob quaisquer circunstâncias.
    Muito obrigado pela participação.

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